Os bastões de luz química são dispositivos usados na pesca comercial para atrair peixes, por meioda técnica conhecida como espinhel de superfície. Nesses dispositivos, a luz é produzida por umareação de quimiluminescência, que ocorre quando os conteúdos dos compartimentos se misturam,por quebra da ampola de vidro interna. Apesar do uso excessivo e indevido destes dispositivos, osriscos de contaminação ao ambiente costeiro ainda não foram devidamente pesquisados eavaliados. Por exemplo, existem registros de mais de 5.500 bastões terem sido recolhidos em2004 nos 172 km de praias da Costa dos Coqueiros na Bahia. Este trabalho teve por objetivoidentificar, por cromatografia a gás acoplada a espectrometria de massas (GC-MS), as principaissubstâncias presentes na fração solúvel em água do mar (FSA) do conteúdo de bastões de luzcomercializados e descartados na costa da Bahia, assim como avaliar os efeitos do tempo,temperatura e exposição à luz solar na estabilidade das suas FSA e os seus possíveis efeitosambientais adversos por meio de testes de toxicidade de curta duração com embriões da ostraCrassostrea rhizophorae. Bastões novos foram adquiridos em lojas de artigos de pesca deSalvador, BA. Além destes, dispositivos descartados foram coletados em praias da Costa dosCoqueiros, na Bahia. O conteúdo dos bastões foi diluído na proporção 1/9 em água esterilizadacom salinidade 28 e mantido durante 20 horas sob agitação, obtendo-se assim a FSA. Dentre osmétodos de extração testados e otimizados o de Headspace, acoplado com a análise por GC-MSfoi o mais eficiente permitindo a identificação de dezenove substâncias. A identificação doscompostos foi realizada através da comparação de seus espectros de massas aos existentes nabiblioteca eletrônica NIST 147. Quanto ao dimetil ftalato (DMP) e dibutil ftalato (DBP),compostos predominantes no conteúdo dos bastões e nas FSA, foram identificados porcomparação a padrões. Os valores de concentração efetiva das FSA que causam alterações em50% dos organismos (CE 50 ) foram obtidos pelo método Trimmed Spearman-Karber. Noconteúdo da ampola interna, além do DBP predominante na composição, foram identificadosoutros ésteres de ácido ftálico, registrando-se também o ácido 3,5,6-triclorosalicílico,1[3H]Isobenzofuranona e 2,4,6-triclorofenol. Na solução que circunda a ampola, além do DMP,foi possível identificar o 2-etil nitrofenilacetato. As FSA testadas demonstraram alta toxicidade.Para os bastões novos, a CE 50 média foi de 0,35±0,06% e mesmo para FSA preparadas a partir debastões após um ano de sua ativação, a toxicidade se manteve alta, com CE 50 igual a 0,65%. AsFSA, tanto do conteúdo que circunda a ampola, como o de dentro da ampola, demonstrarampersistência na toxicidade após seis meses, apresentando CE 50 = 0,54% e CE 50 = 1,45%,respectivamente. Apesar dos testes isolados com o DBP e o DMP, compostos predominantes noconteúdo dos bastões, terem também demonstrado efeito tóxico, as demais substâncias presentesnos bastões potencializaram a sua toxicidade e persistência no ambiente. Estudos adicionaisdemonstraram que alterações de temperatura e exposição ao sol num período de seis meses nãocausaram mudanças significativas na toxicidade das FSA. Os resultados deste trabalho apontampara a importância de se estudar com maior detalhe a composição dos bastões de luz e os seusefeitos tóxicos sobre organismos, já que demonstraram efeitos tóxicos nos testes realizados nolaboratório, tendo as substâncias contidas nos bastões apresentado elevada persistência noambiente.